Nas cores dos desenhos, as travessias (não travessuras) das crianças maranhenses
DOI:
https://doi.org/10.48213/travessia.i82.369Palavras-chave:
Criança, desenho, migraçãoResumo
O objetivo deste artigo é a análise dos desenhos de crianças maranhenses, cujos parentes migravam para o trabalho nos canaviais paulistas. Os desenhos foram coletados no ano de 2007 durante uma pesquisa nos municípios dos cocais maranhenses, Timbiras, Codó, Coroatá, locais de origem da maior parte desses migrantes. Os objetivos gerais da investigação eram a análise dos fatores responsáveis pela migração no contexto do processo de expropriação dos camponeses pelas grandes empresas pecuaristas ali presentes. Em se tratando de uma migração majoritariamente masculina, objetivava-se também estudar a situação experienciada pelas pessoas que ficavam, mormente, as mulheres e as crianças. A metodologia da pesquisa incorporou técnicas qualitativas, por meio da história oral, além de dados quantitativos sobre a estrutura agrária desses municípios e documentos relativos aos processos jurídicos envolvendo os conflitos sobre a apropriação das terras dos camponeses. Outra técnica foi a produção de 51 desenhos de crianças sobre o tema da família e migração. A análise interpretativa dos desenhos revela as representações infantis sobre a migração temporária dos dois mundos, que, embora distantes geograficamente, acham-se unidos pelas mesmas determinações sociais. Os desenhos são as vozes sussurradas das crianças sobre o processo migratório que lhes fora imposto.