O relacionamento entre os refugiados e a comunidade local em Maratane/Moçambique: da tolerância a focos de tensão (2001-2015)
Schlagworte:
Refugiados, Relacionamento, Comunidade localAbstract
Com base na revisão bibliográfica e nos trabalhos de campo realizados em Maratane nos anos de 2003 e 2015, este artigo analisa o desenvolvimento do relacionamento entre os refugiados e a comunidade local, com enfoque nos principais factores que concorrem para a transformação da “tolerância que caracterizava esse relacionamento em “focos de tensão” e possíveis implicações. Argumenta-se que a chegada dos refugiados representou, inicialmente, para os locais diversas vantagens, pois passaram a beneficiar-se de várias infra-estruturas criadas no centro, por exemplo de fontenários, escolas, centro de saúde e mercado de produtos da primeira necessidade. Para além dos benefícios a nível de infra-estruturas, a presença desta população deu-os igualmente a possibilidade de obter formações profissionais em diferentes áreas e adquirir pequenos trabalhos remuneráveis localmente. Os ganhos nas áreas acima indicadas criaram relações de aproximação entre os refugiados e a comunidade local assim, gerando um relacionamento saudável nos primeiros anos. Porém, a disponibilidade que o governo oferece para que possam desenvolver algumas actividades como a agricultura, pecuária, comércio bem como a proatividade dos refugiados na busca de suplementos para a sobrevivência, permitiu que estes passassem de simples receptores de apoios à detentores de diversos bens e serviços, como transporte de passageiros, mercearias, moageiras, etc. Portanto, esta mudança do status sócio-económico dos refugiados em relação às comunidades locais está gerando focos de tensão nas relações entre a população hospedeira e os refugiados. Conclui-se que estas mudanças no relacionamento geram estigma – em relação aos refugiados – que, caso não haja intervenção para alterar este clima, poderão degenerar em ondas de violência.